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Welles/Ruiz: História imortal e Berenice
 
Esta vez me dei conta do equilíbrio poético da montagem. Há alguns silêncios muito inspirados que circulam como uma corrente subterrânea que eu chamaria de 'coral'. O eco de todas as histórias contadas e 'mentidas' pelos anônimos marinheiros. A luz é algo que aproxima. O que eu havia visto como pobreza (cheap) é rigor extremo.
(Comentário de Raúl Ruiz, escrito em seu diário, sobre o filme História imortal de Orson Welles.[1])
 
A obra de Orson Welles (1915-1985) foi uma grande inspiração para o cinema de Raúl Ruiz (1941-2011). Partindo de uma ambientação criada pela arquitetura imponente, perspectivas distorcidas, sombras voluptuosas, sonoridades que descrevem temperamentos, o cineasta norte-americano coloca o espectador muito próximo de seus personagens, sendo possível sentir à flor da pele suas patologias e obsessões. O cineasta chileno se apropriou destas características e as virou do avesso, fazendo com que a ambientação se tornasse tão visceral quanto a própria psique.
 
Os artistas compartilharam uma fascinação pela figura arquetípica do contador de histórias e brincaram com a confiabilidade desta figura. Eles passaram boa parte de suas vidas em exílio na Europa e carregaram como fonte constante de inspiração a tradição literária produzida no continente. Os autores que adaptaram para o cinema contam com, entre outros, Bertolt Brecht, Camilo Castelo Branco, Miguel de Cervantes, Franz Kafka, Marcel Proust, William Shakespeare, Karen Blixen e Jean Racine, sendo os dois últimos a origem dos filmes que passarão em janeiro no evento bimestral Sessão Mutual Films.
 
História imortal (1968) foi adaptado por Welles a partir do conto homônimo de Blixen de 1953 como parte de uma antologia inacabada de adaptações da autora dinamarquesa. Berenice (1983) foi transposta para o cinema por Ruiz da peça teatral de Racine de 1670 como parte de um sonho não realizado de filmar a obra integral do dramaturgo francês. Nestes filmes - ambos recém-restaurados - observamos, junto a um círculo de testemunhas, o declínio de personagens que lutam contra o destino. Em tom melancólico, os cineastas lidam com o passado e histórias distantes que formam um eco trazido para o presente através do poder da lembrança. O passado é presente ainda que seja irrecuperável, enfatizando a sensação de que a história acabou antes mesmo de começar.
 
É interessante que Ruiz e Welles, tão fascinados pelo fantasmagórico, tenham estreado "obras póstumas", finalizadas recentemente - La telenovela errante (2017) e The Other Side of the Wind (2018). Eles também deixaram para trás outras histórias para serem descobertas.
 
[1] Este comentário e outras críticas de Ruiz sobre filmes de outros diretores podem ser lidos em espanhol através deste link
 

 

 
Apresentação de Adrian Martin para História imortal
 

 

 
SINOPSE - HISTÓRIA IMORTAL
 
SINOPSE - BERENICE
 
Web site IMS - Sessão Mutual Films - Informações e ingressos

 

 
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