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Aguarde, os soldados chegaram, vou desligar agora
Wait, It’s the Soldiers, I’ll Hang up Now Avi Mograbi | Israel | 2002, 13’, DV para DCP (Avi Mograbi) + A memória fértil Al Dhakira al-Khasba Michel Khleifi | Bélgica/Holanda/Palestina | 1981, 100’, 16 mm para DCP (Sindibad Films Ltd., Inglaterra) Em A memória fértil, o cineasta palestino Michel Khleifi acompanha o dia a dia de duas mulheres de gerações e ambições diferentes, mas que compartilham um desejo em comum de autoafirmação em uma sociedade duplamente opressiva. Viúva há décadas, a camponesa palestina Roumia Farah Hatoum (tia do cineasta) trabalha incessantemente para manter suas terras em Nazaré, que foram usurpadas após a criação do Estado de Israel em 1948. Ela costura maiôs em uma fábrica israelense de tecidos, faz massas, prepara lã e cuida de sua casa, onde também vivem seu neto, cunhada e filho. Este último tenta convencê-la a transferir a posse da casa para o novo proprietário em troca de dinheiro. “Eu quero cultivá-la, viver nela, dormir nela, e não podemos nos beneficiar dela!”, diz a velha sobre suas terras perdidas. A escritora e professora marxista-feminista mais jovem Sahar Khalifeh vive na cidade de Ramalá, para onde se mudou após terminar seu casamento de 13 anos. Sahar lutou pela guarda de suas duas filhas e as sustenta trabalhando como diretora de atividades culturais na Universidade de Birzeit, a única faculdade palestina. Ela leva uma vida solitária, pois sua condição de divorciada dificulta a possibilidade de um novo relacionamento, e vive plenamente consciente de ter recomeçado do zero. Além das reflexões e de trechos de seus romances que ela compartilha com Khleifi, também são ouvidas as letras das músicas que compôs para seus alunos em uma tentativa de comentar as realidades políticas do velho e novo mundo. Em uma cena, Sahar lê uma das letras: "A galinha diz: 'Pobre de mim! Me venderam ao matadouro e me degolaram sem me abençoar." A linguagem do filme de estreia de Khleifi parte do cinema direto para desenvolver uma narrativa poética e repleta de metáforas sobre um povo que perdeu o direito à existência enquanto nação, mas que mantém sua força enquanto indivíduos. O cineasta rejeitou uma estratégia de mise-en-scène, a favor do que ele chamou de "mise-en-situation", na qual as escolhas principais foram guiadas pela maneira em que as protagonistas queriam mostrar o seu ambiente. O primeiro longa-metragem filmado dentro do território ocupado da Cisjordânia lançou não apenas a filmografia de Michel Khleifi, mas também iniciou a carreira cinematográfica de seu irmão mais velho George Khleifi, que trabalhou como coordenador de produção nas obras de Michel e em outros filmes feitos no território palestino. É a voz de George que ouvimos conversando com o cineasta israelense Avi Mograbi no curta-metragem Aguarde, os soldados chegaram, vou desligar agora, que nasceu durante uma incursão em 2002 pelas Forças de Defesa de Israel em Ramalá e em outras cidades palestinas. Durante esse período, Mograbi tornou um hábito ligar e pedir notícias de amigos que moravam nos Territórios Ocupados, e às vezes gravava as conversas com a permissão dos participantes. Aguarde, os soldados chegaram, vou desligar agora estreou no festival FIDMarseille em 2002 e terá sua estreia brasileira no IMS. A memória fértil foi exibido no Festival de Cannes em 1981 e, nos anos seguintes, foi reconhecido como uma obra fundamental do cinema árabe moderno. Ele foi restaurado digitalmente em 2017 pela Cinemateca Real de Bélgica, a partir de seus negativos originais em 16 mm e sob a supervisão de Michel Khleifi. A exibição dos dois filmes no IMS Paulista no dia 11 será seguida por um debate com Richard Peña, organizador de vários cursos e mostras de cinema feito no Oriente Médio. |
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